Assumindo que todos os compromissos climáticos apresentados pelos países são implementados, atingiremos uma temperatura média anual no final do século entre 2,5 e 2,9 ºC acima dos níveis pré-industriais e bem acima dos objetivos definidos no Acordo de Paris.
O mês de abril de 2024 registou 0,14 ºC acima do anterior recorde, registado em abril de 2016, sendo assim, o 11º mês consecutivo a bater o recorde de temperatura mensal. Este aumento reforça as projeções existentes atualmente, de que 2024 poderá ser o ano mais quente da História, superando assim o ano de 2023.Em 2015, festejávamos o Acordo de Paris, alcançado entre 195 países na COP21, onde se comprometeram a reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2100, com o objetivo principal de conter o aumento da temperatura média anual abaixo dos 2 ºC, idealmente a 1,5 ºC.
Passado oito anos, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) publicou o Emissions Gap Report 2023, e as informações apresentadas não poderiam ser menos animadoras: os GEE emitidos atingiram um novo recorde máximo em 2022, aumentando 1,2% de 2021 para 2022.
De acordo com o relatório, até novembro de 2023 tinham sido registados 86 dias com temperaturas superiores a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais e o mês de setembro foi o mais quente de que há registo, atingindo temperaturas médias globais de 1,8 ºC acima da média da segunda metade do século XIX. Embora estes registos ainda não levem os cientistas a afirmar que tenhamos ultrapassado o limite de temperatura de 1,5 ºC (objetivo ideal do acordo de Paris para o final do século), não deixam dúvidas de que nos estamos a aproximar desse limiar a uma velocidade superior à esperada, e que os eventos extremos registados em 2023 são apenas um início suave dos impactes físicos e monetários que as alterações climáticas nos trarão.
O relatório indica-nos ainda que o progresso realizado com a implementação dos contributos determinados a nível nacional (CDN) desde o Acordo de Paris, permitiu apenas reduzir um aumento espectável de 16% para 3% face ao business as usual.
No entanto, as emissões de GEE deveriam diminuir em 28% para estarem alinhadas com a trajetória de 2ºC ou 42% para a trajetória de conter o aumento em 1,5 ºC. Ou seja, entre o ambicionado e a prática efetiva, constata-se que a redução de GEE está muito abaixo do esperado (31% a 45% abaixo do esperado).
Assim, e assumindo que todos os CND apresentados pelos países são implementados, atingiremos uma temperatura média anual no final do século entre 2,5 e 2,9 ºC acima dos níveis pré-industriais e bem acima dos objetivos definidos no Acordo de Paris.
Na próxima ronda de CDN, a acontecer em 2025 e indicando os objetivos para 2035, os países deverão ser bem mais exigentes e ambiciosos se quisermos atingir os níveis compatíveis com as trajetórias de 2 ºC e 1,5 ºC.
Sendo Portugal dos países Europeus que mais irá sofrer dos impactes das alterações climáticas, sendo estes já evidentes nos dias de hoje (tempestade Leslie 2018, tempestades Elsa e Fabien em 2019, tempestade Aline 2023 e cheias de 2022 e 2023), e tendo em consideração o relatório da ASF sobre a exposição do sectores aos riscos climáticos, é fundamental que todas as empresas consigam pensar de que forma as alterações climáticas vão impactar o seu negócio, para que consigam ter estratégias de adaptação a esta realidade inevitável. Falamos muito em mitigação climática, mas o verdadeiro impacte das alterações climáticas em Portugal estará associado à capacidade das nossas empresas em se adaptarem, com a antecedência devida, às mudanças que irão ocorrer devido ao aumento da temperatura. Uma empresa com uma estratégia de adaptação e plano de implementação apresenta sem dúvida um risco de negócio inferior face a uma outra empresa que ignore esta matéria.
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